Por: Diário do Iguaçu
Em um auditório lotado no Fórum da comarca de Chapecó nesta sexta-feira (12), foi realizado o julgamento do vereador e presidente da Câmara de Vereadores de Chapecó, Arestide Fidelis, acusado de sete tentativas de homicídio e mais dirigir embriagado, após um acidente registrado no dia 1º de maio de 2014.
Por volta das 20h30 foi lida a sentença. Fidelis foi condenado a oito anos de prisão em regime fechado por sete tentativas de homicídio e seis meses de detenção por dirigir automóvel sob efeito de álcool. O juiz Jeferson Vieira explicou também que foi negado o direito a recorrer em liberdade.
20 testemunhas foram ouvidas na parte da manhã da sexta-feira (12), 16 delas em depoimentos gravados e outras quatro testemunhas estiveram presencialmente em frente ao Tribunal do Júri. Antes do início do Júri, o advogado de defesa, Arthur Losekann, falou com a imprensa sobre o julgamento. “Ele está sendo acusado de um crime doloso e o que a defesa quer é não a absolvição em si, mas a condenação pelo que é justo que é o crime culposo”, disse o advogado. Para o Ministério Público, segundo o doutor Cyro Guerrero Junior, o crime se trata de uma tentativa de homicídio doloso. “Com dolo eventual. O Ministério Público entende que o réu assumiu o risco de causar a morte de todas as sete vítimas envolvidas no acidente”, disse.
Família falou sobre o acidente
O primeiro a falar foi Marcos Vassoler Nunes, condutor do Renault Logan que bateu de frente com o carro conduzido por Fidélis e pai da jovem, na época com 13 anos, que teve os ferimentos mais graves na colisão. Ele respondeu questionamentos do juiz que presidiu a sessão, Jeferson Vieira, também do Ministério Público, assistente de acusação e os questionamentos feitos pela defesa do vereador. Em sua fala, Marcos falou das dificuldades enfrentadas e as diversas cirurgias pelas quais a filha passou, para reparar as sequelas deixadas pelo acidente, principalmente relacionadas ao trauma que ela sofreu na cabeça.
Após o depoimento, ele disse ao Diário do Iguaçu sobre o quanto era difícil relembrar esses momentos. “Especialmente para minha esposa e meus filhos, que precisaram atendimento psicológico. Mudou a rotina da nossa família e reviver isso é doloroso”, disse.
Ele contou que a filha precisou passar por seis ou sete cirurgias, entre o dia do acidente e nos anos seguintes, colocação de prótese nas regiões da face onde houve fratura e outros procedimentos.
Alguns procedimentos foram custeados pelo SUS e outros a família precisou custear. Nas duas últimas cirurgias que ela precisou fazer, o custo estimado pela família é de R$ 25 mil. “A gente espera que a justiça seja feita e ele responda pelo que ele fez. Em nenhum momento ele teve a capacidade de reconhecer ou auxiliar nossa família. Nunca tivemos o auxílio de quem foi o causador disso tudo, nem mesmo um pedido de desculpas”, disse.
Na sequência foi a vez de Juceleia Vassoler Nunes falar. Emocionada, ela lembrou do acidente e dos momentos de agonia que viveu ao ver o marido e a filha feridos e sem respondê-la. Lembrou de ver a pessoa do outro carro sair do local sem ajudá-la. “Eu trabalho há 20 anos [como técnica de enfermagem] com vidas. Quantas vidas eu ajudei. E, naquele momento, eu era o único socorro para a minha família”, contou emocionada.
Ao Diário do Iguaçu, Juceleia disse que esses quase cinco anos foram muito difíceis, especialmente para a filha do casal, que ainda carrega cicatrizes do acidente, em função do traumatismo craniano que sofreu. “Procuramos fazer tudo para ela se sentir melhor. Eu, o pai e nossos familiares fizemos tudo para que ela se recuperasse”, disse.
Ela contou, ainda, que jamais o vereador procurou a família. “Não nos estendeu a mão nem no dia do acidente, nem depois de tanto tempo, sequer para dizer ‘eu estou aqui para ajudar’. Tivemos que nos virar sozinhos”, contou. A filha do casal também estava no local e deu um depoimento bastante emocionado falando.
Vereador assume que errou
Por volta das 11h30 foi a vez do vereador Arestide Fidelis dar seu depoimento. Ele contou que estava em uma confraternização próximo ao aeroporto e que por volta das 16h pegou o carro com direção ao bairro Engenho Braun. Ele confirmou ter ingerido bebida alcóolica, sem saber precisar a quantidade exata, mas citou entre três ou quatro copos de cerveja.
Ele contou ainda que faz uso de um medicamento há mais de 15 anos sempre antes do almoço, mas que neste dia ingeriu o remédio sem almoçar e já estava consumindo bebida alcoólica, quando começou a sentir-se mal.
Por volta das 16h ele pegou seu carro e seguiu em direção ao Engenho Braun, quando pouco após a entrada do bairro Santo Antônio iniciou uma ultrapassagem a um caminhão, admitindo tê-lo feito em local com faixa dupla (onde a manobra é proibida), lembra de bater na Ecosport e depois o choque com o Logan.
“Eu acredito na justiça, vocês querem a justiça e eu estou aqui diante de pessoa que vão fazer a justiça. Não tenho dúvida. O meu lema da minha vida foi trabalhar, fazer o bem para as pessoas. Já pedi perdão para a família, desculpas públicas em todas as manifestações que eu fiz. Se isso não basta, estou diante de vossa excelência e dos jurados. Façam a justiça, mas a justiça do Arestide homem, ex-trabalhador da Sadia, não do presidente da câmara de vereadores nem do Arestide vereador”, salientou.