A emocionante trajetória de Eunice Paiva, uma incansável defensora dos direitos humanos no Brasil, foi retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. Sua história é marcada pela luta por justiça, pela preservação da memória dos desaparecidos durante a Ditadura Militar e pela defesa dos direitos dos povos indígenas.
Da perda pessoal à luta coletiva
Eunice Paiva foi casada com o ex-deputado federal Rubens Paiva, que foi preso, torturado e assassinado pela Ditadura Militar em 1971. Além de enfrentar a dor da perda, ela e a filha Eliana também foram detidas. Eunice passou 12 dias presa, sendo interrogada pelas autoridades do regime. Quando foi libertada, iniciou uma longa e obstinada busca por justiça e pela verdade sobre o paradeiro de seu marido.
Determinação e coragem foram marcas de sua trajetória. Mesmo diante das adversidades, decidiu continuar seus estudos e se formou em Letras. Aos 47 anos, ingressou no curso de Direito e se especializou na defesa dos direitos indígenas, tornando-se uma referência na área.
Compromisso com os direitos indígenas
Eunice teve um papel essencial na luta pela demarcação de terras indígenas, incluindo a Terra Indígena Zoró (TIZ), localizada no Mato Grosso. Seu trabalho foi fundamental para garantir a proteção dos territórios indígenas e o respeito às culturas tradicionais. Atuou lado a lado com antropólogos e outros especialistas para assegurar que as terras fossem reconhecidas e preservadas.
Seu envolvimento também se estendeu à Assembleia Nacional Constituinte, contribuindo para a elaboração da Constituição Federal de 1988. Além disso, ajudou na promulgação da Lei 9.140/1995, que reconheceu como mortos os desaparecidos políticos durante a Ditadura Militar.
O reconhecimento da verdade
A lógica imposta pelo regime ditatorial impediu que famílias soubessem o destino de seus entes desaparecidos. No entanto, graças à luta de Eunice e de outros ativistas, em 1996 o Estado brasileiro finalmente reconheceu oficialmente a morte de Rubens Paiva, emitindo sua certidão de óbito. Essa conquista está eternizada no filme “Ainda Estou Aqui”, que trouxe visibilidade à sua história e à de tantas outras famílias afetadas pela repressão.
Até os últimos anos de sua vida, Eunice continuou sua atuação pelos direitos humanos. Ela faleceu em 2018, aos 86 anos, após enfrentar o Alzheimer por 14 anos. Seu legado, no entanto, continua vivo através das leis que ajudou a criar e das histórias que inspirou.
Um filme para não esquecer
A vitória de “Ainda Estou Aqui” no Oscar 2025 é um reconhecimento não apenas da qualidade cinematográfica da produção, mas também da importância de manter viva a memória sobre um dos períodos mais sombrios da história do Brasil. O longa traz para o centro do debate a necessidade de justiça e a luta das famílias que ainda buscam respostas sobre seus entes desaparecidos.
A história de Eunice Paiva é um exemplo de resistência, coragem e compromisso com a verdade. Sua luta foi essencial para a construção de um Brasil mais justo e igualitário. Que sua memória continue inspirando gerações a nunca esquecerem a importância dos direitos humanos e da justiça histórica.