Empatia, cooperação, respeito, liberdade, criatividade e paciência são alguns dos valores repassados por meio da arte e da cultura. Todos esses aprendizados motivados por propósitos em comum: mudar a realidade de crianças, adolescentes e famílias em vulnerabilidade social. Foi com esse objetivo que o bombeiro aposentado Erno Luiz Ferreira Zuse idealizou um projeto, em Chapecó, que carrega esperança e sonhos sobre quatro rodas.
“Em 2017, adotei uma cartinha de Natal. Nela, um menino pediu um caminhãozinho de bombeiro de presente. Na época, eu já tinha uma coleção, mas eu queria entregar algo feito especialmente para ele. Personalizamos vários carrinhos, compramos roupas para as suas irmãs e montamos uma cesta básica com os mesmos alimentos que comprávamos para a nossa família. Foi assim que despertei a vontade de ajudar mais pessoas”, afirma Zuse.
Ao construir paletes de flores para a esposa, Zuse viu a oportunidade de produzir brinquedos com as sobras de madeiras. No primeiro ano de projeto (2018) fez 80 caminhõezinhos e montou 120 pacotes de doces, que foram doados no bairro Vila Rica. “Os 36 anos de experiência me ensinaram a importância de ajudar as pessoas e de estimular colegas e familiares a promover ações sociais. Todas as etapas da produção de brinquedos, desde o corte da madeira, pintura e até a entrega são feitas com dedicação para a miniatura ficar parecida com o caminhão do Corpo de Bombeiros e entusiasmar as crianças a admirar e seguir a profissão”, fomenta Zuse.
Todo material usado é comprado pelo bombeiro. Neste ano, também recebeu doações de amigos e vizinhos. “Devido os riscos da pandemia, não entregaríamos presentes. Porém, ao mesmo tempo, muitas pessoas perderam o emprego. Talvez sintam dificuldade de colocar alimentos na mesa, então provavelmente os brinquedos não serão prioridades neste Natal. Com todos os cuidados, faremos as doações para suprir as necessidades das famílias e fazer a felicidade de muitas crianças. Essa é nossa maior alegria”, complementa Zuse.
Já a empreendedora Keylla Aparecida Coral é proprietária de cinco lojas que comercializam capas de celular personalizadas. Para crescer nos negócios, recorreu às linhas de crédito da Credioeste. Ao superar as primeiras dificuldades, dedicou-se também às ações sociais. Além de ajudar Zuse com as entregas de presentes em datas comemorativas passadas, há cerca de um mês idealizou junto à sua irmã, Danielly Zuse, e a amiga, Angélica Mader, o projeto reconhecido temporariamente de “Arcanjos”. “A ideia surgiu de um trabalho da faculdade. Nosso objetivo é produzir bonecas de tecido e doar para crianças de comunidades carentes. Em pouco tempo já confeccionamos mais de 60 bonecas”.
Danielly cursa Artes Visuais e relata que o amor pela arte nasceu ainda quando criança ao acompanhar o avô pintando e criando instrumentos musicais. “Herdei o gosto pelo desenho e pela pintura. A arte está em todo lugar. No quadro na parede, nos traços e cores de um grafite no muro, na fotografia, na poesia e nas composições. Cada trabalho nos motiva a acreditar em um mundo melhor. As bonecas são a nossa arte, nas linhas dos olhos, nas curvas da boca e até no enrolar da lã dos cabelos. Projetamos nelas a nossa personalidade e fortalecemos a esperança das crianças, que futuramente podem seguir a profissão e melhorar a realidade de outras pessoas”, destaca.
Angélica ingressou no projeto por um motivo especial. Para ela, produzir bonecas é uma forma carinhosa de preservar a memória de seu pai, que faleceu de câncer há cinco anos. “Conseguimos chegar em diversos lugares e em pessoas que enfrentam dificuldades diferentes. Doaremos brinquedos para as crianças que tratam câncer no Hospital da Criança. A pandemia nos impede de visitá-las, mas estamos nos preparando para que nos próximos anos possamos conhecê-las, realizar oficinas e levar arte e alegria à todas”.
O coletivo sonha em criar uma Organização Não-Governamental (ONG). “É o primeiro mês de projeto, mas para o próximo Natal planejamos produzir durante o ano todo e contamos com o apoio da comunidade para fortalecer essa ação. Parece que ao doarmos fazemos bem às crianças, mas são elas que nos ensinam a valorizar o que somos e transformam nossas vidas. A empatia se enraíza e contagia. Nossos filhos são a prova desse sentimento. Eles nos ajudam com a produção e reforçam com os colegas a importância de ajudar e compreender a realidade do outro. Tudo isso só é possível pela arte e pela disposição de melhorarmos a vida das pessoas, seja uma, dez ou mais de cem”, salienta Keylla.
Jornalismo Rádio Efapi com informações da MB Comunicação.