Tornar o sítio uma propriedade autossustentável e otimizar a estrutura existente para desenvolver uma nova atividade econômica. Com esse objetivo o empresário Heber Danieli, do município de Vargeão no oeste catarinense, ingressou na caprinocultura. O que ele não imaginou é que em tão pouco tempo teria que adaptar seus planos e expandi-los para o desenvolvimento de marca própria e para a comercialização de carnes. Para tirar seus projetos do papel contou com o suporte do Programa de Consultorias de Inovação e Tecnologia do Sebrae (Sebraetec).
O desejo de produzir caprinos nasceu em 2014 com a aquisição do Sítio H.N e Filhos, localizado na Linha Pedrão. A família optou em se mudar para o interior e mesmo com uma pequena área de terra investir na produção de proteína animal. No local tinha um chiqueiro, mas que não seria possível reativá-lo em função das licenças ambientais. Com a ideia de reduzir os custos de manutenção da propriedade e aproveitar a estrutura existente Heber iniciou suas pesquisas e analisou qual o melhor animal para se adaptar no confinamento. “Fiquei dois anos estudando sobre cabrito antes de começar a produção. Percebi que era um animal rústico, se adaptava a vários estilos de manejo e não exigia muito espaço. Amadureci a ideia, adaptei o barracão e comecei a atividade com oito animais”, recorda o empresário rural.
Após oito meses na atividade, o empresário participou de uma reunião em que os consultores credenciados ao Sebrae/SC Flávio Cristiano Marques Melo e Rafael Trentim apresentaram proposta de trabalho para implementação nas propriedades que atuam no setor de caprinocultura. “Na época formamos um grupo de produtores para iniciar o projeto. Foi muito importante esse começo, porque os profissionais são bem qualificados, sérios e preparados para desenvolver esse trabalho. A partir das consultorias tecnológicas melhoramos o plantel, aumentamos o rebanho e adquirimos mais animais”, explica Heber.
Na primeira etapa o Sebraetec auxiliou no melhoramento genético das matrizes e dos reprodutores; no aperfeiçoamento do sistema produtivo da caprinocultura; na eficiência reprodutiva dos rebanhos com redução de mortalidade, aumento da taxa de desfrute e planejamento dos nascimentos para ofertar cabritos ao mercado do período da safra e entressafra. O empresário rural implantou planilha zootécnica para levantamento de dados para o melhoramento genético, a realização de exames de ultrassom nas matrizes, andrológico nos reprodutores e parasitológico de fezes (OPG) nos principais lotes do rebanho.
RESULTADOS
As consultorias tecnológicas iniciaram na propriedade de Heber em 2018, com oito matrizes e um reprodutor da raça Boer. No ano seguinte o produtor adquiriu mais animais e finalizou 2019 com 54 matrizes e dois reprodutores. Segundo Flávio, neste ano ocorreu alteração na estratégia do produtor com o lançamento da marca própria de carne, o que fez com que além dos cabritos gerados na propriedade fosse necessário adquirir animais de outros produtores para engordar na propriedade. “O número de matrizes e reprodutores permaneceu praticamente estável em 47 matrizes e dois reprodutores, porém teve uma elevação significativa no número de cabritos para abate na propriedade. Antes dessa adaptação o maior número de cabritos para abate em um mês foi de 13 animais e em outubro foram 53 animais”, enaltece.
De 2019 para 2020, de acordo com Rafael, ocorreu evoluções significativas nos índices da propriedade. A taxa de fertilidade (número de cabras paridas no comparativo ao número de cabras acasaladas em idade reprodutiva) que era abaixo de 70% subiu para 88% com o aprimoramento dos manejos. O índice de prolificidade (número de cabritos nascidos em cada parto) aumentou de 1,5 para 1,7 em 2020, ou seja, a cada 100 partos nascem 170 animais. “Importante ressaltar que o produtor não tinha nenhuma experiência na atividade e tem conseguido resultados representativos”, analisa.
Atualmente o empresário rural tem aproximadamente 170 animais/mês, entre adultos e filhotes, machos e fêmeas, quase o limite de sua estrutura física.
DESENVOLVIMENTO DA MARCA
Na segunda etapa as consultorias tecnológicas auxiliaram o produtor no desenvolvimento da marca, na elaboração da identidade visual e na produção do catálogo de produtos, incluindo a produção fotográfica dos produtos para o encarte. “O Sebrae/SC foi como uma mãe para mim, não aquela que lhe dá tudo para não ficar mal-acostumado, mas que te empurra e motiva a melhorar a cada dia. Hoje tenho minha marca com o projeto dos caprinos e se não fosse pela entidade talvez eu ainda estivesse lá atrás, não teria crescido e não teria essa quantidade de animais. Tudo isso eu devo graças ao incentivo do Sebrae/SC”, agradece.
Heber conta que o desenvolvimento da marca foi uma necessidade. “Quando resolvi atuar nessa área esperava apenas produzir o animal e comercializá-lo para abate. A ideia nunca foi produzir, industrializar a carne e vender. Mas, tudo se encaminhou para que isso acontecesse”, explica. O frigorífico que comprava os animais dos produtores estava pagando um preço abaixo do mercado, o que gerou dificuldades financeiras para os produtores, principalmente para Heber que tem um custo mais elevado pelo confinamento. “Não conseguia vender os meus animais, a menos que tivesse prejuízo. Então comecei a pensar em alternativas. Fiz parceria com outro frigorífico que buscaria os animais, industrializaria e me enviaria a carne embalada para que eu pudesse comercializar no supermercado. Fiz um teste para avaliar a aceitação, mas sem o propósito de expandir. Meu desejo era só agregar um pouco mais de valor nos animais. Comecei a divulgar e o resultado foi acima do esperado, principalmente por ser um produto nobre. A partir disso e da dificuldade dos demais produtores os consultores orientaram sobre a expansão do mercado e da necessidade de pensar em trabalhar em uma cadeia alimentícia. Isso deu esperança para todos”, comenta.
Para não ingressar sozinho no mercado Heber tentou formalizar parcerias com outros produtores, porém as incertezas econômicas assustaram os demais. “Resolvi colocar a cara para bater. Conversei com o Flávio e relatei a proposta de fazer a minha marca. Depois, liguei para o Sebrae Chapecó que comprou o meu projeto e foi um parceiro fantástico. Atualmente tenho parceiros que me ajudam, os produtores assumiram o compromisso de me fornecerem os animais para começarmos a cadeia produtiva, que favorecerá a todos. A marca HD Capri representa um grupo de produtores/investidores”, assinala.
Heber comenta que sempre foi um sonhador, mas executa projetos com segurança. Seu plano futuro é inserir a marca em todo o oeste catarinense, intensificar a divulgação da carne de caprinos para, posteriormente, buscar novos mercados como o litoral de Santa Catarina ou outros Estados. “Não é nada fácil vender uma carne nobre em época de pandemia, em um cenário instável e sem projeção de crescimento. São grandes os desafios que enfrentamos no dia a dia, porém temos um mercado enorme para explorar”, projeta.
Jornalismo Rádio Efapi com informações da MB Comunicação.