A sessão da Câmara de Chapecó dessa quinta-feira (11) contou com a presença do diretor geral do Hospital Regional Oeste (HRO), Osmar Arcanjo de Oliveira, e dos diretores técnicos do Hospital, Sérgio Casagrande e Rajá Elias. A visita dos dirigentes atendeu ao requerimento da vereadora Marcilei Vignatti (PT) pedindo explicações sobre as denúncias feitas pelo ex-secretário da Saúde, Nédio Conci (2005/2009 e 2017/2018), de que o Hospital da Criança (HC), mantido pelo HRO, está com irregularidades no setor de oncologia pediátrica.
As declarações do ex-secretário foram feitas durante entrevista ao jornalista Fábio Schardong, da Rádio Chapecó, no dia 25 de janeiro deste ano, quando Nédio Conci afirmou que a oncologia não deveria estar funcionando por falta de estrutura e que “só foi inaugurada no Hospital da Criança graças a manobras políticas”. Segundo o ex-secretário, a oncologia não tem UTI pediátrica, não faz exames e cirurgias complexas, mantém o Raio-X em funcionamento somente das 6h às 19h e transporta medicamentos quimioterápicos do HRO ao Hospital da Criança, irregularidades que, de acordo com Conci, violam as portarias federais que atestam o funcionamento da estrutura e colocam pacientes em risco.
Ainda, segundo declarou o ex-secretário, ao acelerar a inauguração (dezembro de 2015), o município não obteve verbas estaduais e federais e mantém o Hospital da Criança ao alto custo anual de mais de R$ 6 milhões. “Aquele hospital funciona muito mais próximo de uma unidade básica de saúde do que de um hospital”, afirmou Conci, durante entrevista à Rádio Chapecó.
RESPOSTAS
Os diretores do HRO admitiram a falta de recursos para melhor estruturar o Hospital da Criança, que, de fato, não tem UTI pediátrica, porém rechaçaram a denúncia de que a oncologia do Hospital esteja com irregularidades e colocando pacientes em risco.
Segundo o diretor geral do HRO, Osmar Arcanjo de Oliveira, a abertura da oncologia no Hospital da Criança se deu após acordo entre Associação Lenoir Vargas Ferreira, mantenedora do HRO, Estado e Município, com aprovação de projeto pelas Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, além da Vigilância Sanitária, para atendimento de forma emergencial no Hospital da Criança com objetivo de evitar que pacientes tivessem que se deslocar a Florianópolis. “Imagina uma criança que precisava fazer quimioterapia de 15 minutos, viajar 10 horas para isso. Uma solução era urgente”, defendeu Oliveira.
O projeto, de acordo com os dirigentes, estabeleceu estrutura mínima para manter a oncologia em funcionamento, mesmo sem UTI pediátrica. “Quando abrimos a oncopediatria no HC, perguntamos: o que não pode faltar? Obviamente, não teríamos aberto se a gente percebesse algum risco para crianças. Somos médicos, somos técnicos, não somos irresponsáveis. O que fizemos foi uma adaptação da estrutura para atender as atividades. Tomamos todos os cuidados. Existe pronto socorro, equipamentos que permitem que mantemos uma criança em situação grave, com possibilidade de vida, até ser transferida para uma UTI. É obvio que se tivesse uma UTI, seria melhor, mas gostaria de deixar bem claro que não há risco para as crianças atendidas. Temos toda estrutura para atendimento de urgência e emergência”, destacou o diretor técnico Sérgio Casagrande.
TRANSFERÊNCIA DA ONCOLOGIA
Os dirigentes confirmaram que há recomendações do Ministério Público para que o Hospital da Criança instale na oncologia uma capela de fluxo laminar para medicamentos quimioterápicos e a UTI. Como não há recursos para a UTI, o Hospital vai seguir a recomendação do MP para transferência da oncologia pediátrica.
“A primeira recomendação {capela} podemos providenciar, a segunda não, é muito cara, não há recursos. Vamos transferir a oncopediatria para o HRO por algum tempo, assim que tivermos espaço no novo prédio e autorização para funcionamento. Mas será provisório. Nossa luta médica é que aquela estrutura se transforme em uma unidade de pediatria completa, equipada com UTI e reconhecida. A nossa luta esse ano é encontrar verbas para dar início a essa obra”, adiantou Casagrande ao afirmar que a transferência de todo o Hospital da Criança para o HRO seria um “suicídio”.
“O HC está lá e vai ficar. Transferir toda a pediatria é suicídio. Não temos espaço, estrutura para isso. Uma transferência deste tipo não levaríamos mais de uma semana para sentirmos a grave repercussão. Não tem como administrar o que já é um caos hoje”.
De acordo com o diretor técnico do HRO, Rajá Elias, a oncologia do Hospital da Criança de Chapecó atende 116 municípios da macrorregião, com estatística de cura de 80%. Do total de atendimentos, 53% são de pacientes de Chapecó e 47% da região. “Ele {ex-secretário Nédio Conci} tem uma certa razão quando fala que o HC não tem condições, mas eu diria não tem condição total, porque é parcial. O ideal é termos UTI e equipamentos para exames, mas isso a médio prazo será transferido para o HRO. Temos três médicos pediatras, há necessidade de mais três na área de oncologia. A gente precisa de recursos para atender 100% em todos os níveis”, destacou Elias.
O custo do HC, segundo o diretor geral Osmar de Oliveira, é de R$ 1,1 milhão por mês. “O SUS tem teto de R$ 200 mil. O município aporta mais R$ 520 mil por mês. Entra mais em torno de R$ 150 mil oriundos de atendimento de convênios. Mesmo assim, o HC fechou em 2018 no vermelho em R$ 431 mil. Não existe milagre. Não é justo que o município de Chapecó banque sozinho todos os custos. Precisamos viabilizar novas fontes de recursos e defender nosso Hospital”, emendou Rajá Elias.
CUSTOS E ATENDIMENTOS
O caos mencionado pelos diretores se refere à escassez de recursos que tem atrasado em dois anos a inauguração da nova ala do HRO e agravado o problema que é o principal gargalo do Hospital: a superlotação do Pronto Socorro.
De acordo com Oliveira, o HRO espera ocupar a nova ala em 90 dias e viabilizar recursos até o fim do mês para equipar o novo prédio. “O HRO trabalha no limite. A ala nova está, na pior das hipóteses, dois anos atrasadas. Já deveria ter sido inaugurada em 2017 pela necessidade. Falta liberação dos bombeiros sobre a interligação do sistema de gás. O Pronto Socorro, que atende hoje de forma improvisada, é de 30 anos atrás. Espero que nos próximos 90 dias, consigamos entrar e fazer gradativamente a ocupação. Só que isso vai aumentar as despesas e hoje não há recursos, estamos buscando. Se nós entrássemos na nova ala hoje, não teríamos receita. O problema está sendo resolvido e esperamos notícias boas até o final do mês”, disse o diretor.
Segundo Osmar, o HRO tem custo atual mensal de R$ 10,5 milhões e precisaria de, pelo menos, mais R$ 6 milhões por mês para arcar com as novas despesas projetadas. “As despesas crescerão 60%, portanto, as receitas deveriam aumentar na mesma proporção”, enfatizou.
REPERCUSSÃO
Os vereadores parabenizaram o trabalho prestado pelos médicos dirigentes do Hospital Regional do Oeste e criticaram as denúncias feitas pelo ex-secretário Nédio Conci. “Me admira o secretário falar somente quando saiu de lá. É o Hospital que menos recebe e que mais faz. Atende toda a região. As pessoas que trabalham lá e administram o HC precisam ser parabenizadas, porque não se faz saúde sem recurso”, disse o líder do governo, João Rosa (PSB).
“O ex-secretário foi irresponsável ao gerar insegurança sobre o trabalho prestado pelo HC. Colocar em jogo o histórico de profissionais não se faz. Temos que dividir a conta, não fechar as portas. Precisamos fazer um debate estadual para estruturar o Hospital”, acrescentou Cleiton Fossá (MDB), ao adiantar que a Câmara está organizando audiência pública para debater a situação e os desafios do HRO.
INDICAÇÃO
Na sessão, os vereadores também aprovaram reunião de trabalho, com data a ser marcada, para debater obras de manutenção da rede hidráulica, vias e ruas, respondendo à constantes reclamações dos moradores sobre buracos abertos e demora no conserto. A sessão também aprovou duas indicações dos vereadores para melhorias na infraestrutura do município.
Jornalismo Rádio Efapi com informações da MB Comunicação.