Texto: Alexandre Madoglio/Rádio Efapi
É manhã de quinta-feira. Os despertadores de centenas de trabalhadores e estudantes começam acionar. As luzes da iluminação pública dão lugar a um belo nascer do sol. O silêncio da madrugada vai dando espaço ao barulho de veículos e empresas. É hora de ir ao ganha pão é hora de ir em busca de conhecimento. “A rotina começou”, disse rindo a vendedora de lanches do Bairro Efapi, história que você acompanha a partir de agora.
Angela Rodrigues tem 44 anos e reside no loteamento Alta Floresta, no maior Bairro de Chapecó. Com seu carrinho de duas rodas, circula de ponta a ponta a Avenida Senador Atílio Fontana que é a principal via que liga o Efapi ao centro. De quadra em quadra, de comércio a comércio, essa é a rotina fixa das manhãs e tardes de segunda a sexta-feira da vendedora.
“Fazia pouco tempo que havia vindo morar em Chapecó. Trabalhei quatro anos em uma loja de roupas e depois fui trabalhar na Bondio Alimentos, agora Aurora. Lá eu comecei na cozinha, mas eles assinaram minha carteira na produção e não queriam alterar. Trabalhei três meses e não aceitei mais”, relembra como foi seu início em Chapecó.
Vinda de Erechim no Rio Grande do Sul, Angela precisa dar uma qualidade de vida melhor para seus três filhos que na época eram pequenos. “Eu fiquei em casa 15 dias pensando no que iria fazer. Filhos pequenos, aluguel, tudo para pagar e comida para comprar. Eu pensei: vou fazer uns pastéis e vou ir vender”, conta. Além dos pastéis, ela levou uma nega maluca junto. Duas quadras do loteamento Thiago foram suficientes para secar o pote bonitinho, apelido designado por Angela.
“Com o lucro passei no mercado comprei mais massa de pastel e ingredientes para fazer sanduíche também”, relata. As vendas começaram a ter bons resultados e Angela precisou avançar no estoque. “Eu fiquei cerca de quatro anos levando os produtos tudo no braço. Levava uma sacola térmica com os pastéis, uma caixa com bolo e uma térmica de suco”, revela.
Os clientes começaram a chamar Angela como a “tia dos lanches” e pediram que ela viesse também pela parte da manhã, já que percorria a avenida apenas à tarde. “Eu tinha uma receita de pastel muito boa. Eu tinha um cilindro pequeno. Levantava às 4 horas da manhã e fazia as massas de pastel para ficar tudo fresquinho”, afirma rindo.
Passou-se quatro anos, um chaveiro deu a ideia para a vendedora criar um carrinho para carregar os produtos, já que Angela levava tudo nas mãos. Sem condições no momento para investir em uma estrutura, ela conseguiu ajuda do chaveiro que com um proprietário de uma garagem de veículo compraram um carrinho para ajudar a vendedora.
“Eu comecei adaptar meu carrinho. Os clientes me deram aquelas estruturas de freezer. Ele quebrava bastante devido ao peso que carregava. Eu lembro que uns pias soldaram dois garfos de bicicletas. O pessoal de um centro automotivo soldaram os garfos e pintaram o carinho. Tem um pouquinho de cada dedo nele”, exclama feliz Angela que está há cerca de 18 anos vendendo lanches.
Ela relembra ainda que na época foi por extrema necessidade. Angela conta que na época tinha três crianças pequenas e precisava dar o pão de cada dia para as crianças. “Hoje meu carrinho vai lotado. Com muitas opções de lanches e também bebidas. O pessoal da famosa Avenida Senador Atílio Fontana gosta muitos dos meus lanches, que hoje são todos caseiros. Não troco essa avenida por nada”, finaliza Angela, que é um símbolo de vontade e superação.