Texto: Alexandre Madoglio/Jornalismo Rádio Efapi
Os barulhos das sirenes e os gritos de socorro não saíram mais da memória de 24 crianças de quatro e cinco anos, do Ceim Pequenos Heróis, do bairro Efapi. Os ponteiros do relógio marcavam 16h30 e no calendário era terça-feira, 24 de abril. Para as crianças e professores um dia normal da rotina escolar, mas de repente, um veículo conduzido por um homem alcoolizado invade a sala e deixa várias crianças feridas.
“O momento foi de muito pânico, foi uma cena de terror, algo que não sei explicar. É muito difícil falar sobre isso. Jamais pensei passar por uma situação assim”, conta a professora Joelma de Paula, que estava com as crianças no momento do ocorrido.
Pais e familiares chegavam assustados a todo instante na creche em busca de notícias das crianças que estudavam no porão alugado, onde haviam duas salas de aula.
A correria foi grande e mobilizou diversos órgãos de segurança, entre eles, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Corpo de Bombeiros, o Saer/Sara, a Polícia Militar (PM), a Polícia Militar Ambiental (PMA) e a Guarda Municipal. A corrida contra o tempo era fundamental para o socorro das vítimas feridas.
A enfermeira do helicóptero do Saer/Sara, Nadia Bender, relata que atuar no resgate das vítimas foi uma situação chocante e comovente. “Contudo, nós como profissionais tivemos que guardar nossas emoções e colocar em prática o nosso profissionalismo”, comenta. A enfermeira conta que a equipe encontrou muitas crianças ainda machucadas, algumas com muitos ferimentos, inclusive dois em estado grave. “Nós do Saer/Sara focamos no atendimento de uma princesinha que se encontrava em estado crítico. Realizamos os primeiros atendimentos, estabilizamos e encaminhamos ao Hospital da Criança”, afirma. Ainda de acordo com a enfermeira, foi somente após o término da ocorrência que os profissionais deram lugar para as emoções e os sentimentos. “Nos colocamos no lugar das crianças e da família”, complementa emocionada a enfermeira.
Segundo informações da Polícia Militar, sete crianças foram levadas ao Hospital Materno Infantil. Duas delas em estado grave, sendo internadas na UTI pediátrica do Hospital Regional do Oeste. Outras sete crianças foram encaminhadas por familiares à Unidade de Pronto Atendimento do bairro Efapi e após os procedimentos médicos foram liberadas.
FAKE NEWS
Boatos surgiram logo após o acidente. O que mais chamou atenção e que causou indignação foi uma foto que circulou pelas redes sociais de um homem que seria o suposto motorista que causou o acidente. Contudo, Eugênio foi um dos primeiros a chegar para socorrer às crianças.
Bruna Delllalibera, filha de Eugenio, fez uma publicação no Facebook falando sobre o boato. “Pessoal esse é meu pai… Ele foi ajudar as criancinhas em Chapecó… Tiraram essa foto dele e tão falando que ele era o motorista, mas não foi ele, ajudem a divulgar a foto, meu pai é um senhor que mora perto e ele não bebe… Obrigado”.
Eugênio Delaliberra é morador do bairro Efapi há 30 anos e procurou o Departamento de Jornalismo da Rádio Efapi para se manifestar sobre o caso.
VIGÍLIA E ABAIXO-ASSINADO
Uma vigília de oração em prol das vítimas foi realizada no dia do acidente em frente ao local do acontecido. Participaram da vigília, familiares, alunos das escolas e comunidade em geral.
Na manhã do dia 25 de abril, moradores estiveram na creche coletando assinaturas para um abaixo-assinado que pedia melhorias na instituição. Entre as reivindicações, estavam: a construção de novas salas de aulas em quantidade suficiente adequadas ao ensino e a aprendizagem e a infraestrutura interna e externa. As centenas de assinaturas coletadas foram entregues no Ministério Público.
RETORNO ÀS AULAS
Oito dias após o acidente, a rotina escolar reiniciou. Ainda assustadas, as crianças voltaram ao espaço de ensino. O retorno às aulas contou com a participação do embaixador da Associação Chapecoense de Futebol, Jackson Follmann.
Duas novas salas de aula estão sendo construídas ao lado do Ceim para atender as crianças que estavam no espaço alugado. A obra está na reta final e a previsão de entrega é no dia 10 de junho.
INQUÉRITO
Em entrevista à Rádio Efapi, o delegado Bruno D`lelis, responsável pelo caso explicou que todo trabalho de investigação possível foi realizado pela 3ª Delegacia de Polícia Civil do bairro Efapi. O caso agora está no judiciário. O homem continua preso no Presídio Regional de Chapecó.
*Matéria produzida pelo repórter Alexandre Madoglio sob a orientação de Marcio Serpa.
